“Quando me foi atribuído o Prémio Nobel de Literatura fiquei a meditar em quê exactamente se relacionam as minhas canções com a literatura. Quis reflectir nisso e ver onde existiam pontos de contacto. Vou tentar articulá-lo para vós. Sendo o caminho em círculos, espero que o que vou dizer valha a pena e seja útil. 

Remontando ao início de tudo, acho que devo partir de Buddy Holly. Buddy morreu quando eu tinha dezoito anos e ele vinte e dois. No momento em que o ouvi pela primeira vez, senti-me seu igual. Senti que havia uma relação entre mim e ele, como se ele fosse um irmão mais velho. Pensava até ser parecido com ele. Buddy tocava a música de que eu sempre gostei - a música com a qual eu tinha crescido: country western, rock’n’roll e rhythm and blues. Três ramos da música diferentes, que ele misturava e fundia num único género. Numa matriz. E Buddy compunha canções - canções com melodias admiráveis e versos sugestivos. E cantava bem - cantava em mais de um tom. Estava ali o arquétipo. Tudo o que eu não era mas queria ser. (...)”, 2018, peixe-gato.